O CHEIRO DA INFÂNCIA

Minhas maiores ou melhores recordações surgem quando sinto o cheiro de algo lá da minha infância. São flashs momentâneos seguidos de uma sensação boa de prazer.

Dia desses entrava no banheiro do escritório logo após a empregada limpa-lo e o cheiro  dos produtos de limpeza trouxeram a mente uma massinha de modelar que brincava quando tinha sete anos. Sei a idade certa, por que exatamente nesse período que tive hepatite, e minha mãe para que me mantivesse ocupado e menos entediado comprou  um jogo dessas massinhas coloridas, com a qual passava horas em frente a TV brincando.

Minha avó por toda a vida usou dois perfumes distintos: um chamado Promessa e outro com cheiro de violeta. Não há um lugar que passe e sinta algo parecido que não me vem a mente as manhãs de domingo que a acompanhava a missa, ainda criança. Recordações de uma época tão, mas tão inocente que as vezes duvido que tenha existido.

Minha irmã tinha uma bonequinha que vinha acompanhada de um banheiro completo, e claro uma banheira com chuveiro e tudo. Sempre que ela brincava ( eu devia ter 2 ou 3 anos nessa época) ficava sentado ao lado apertando um botão que fazia o chuveiro funcionar. Mas o melhor de tudo, era o cheiro que o sabonetinho tinha. Dia desses estava no shopping e ao passar por uma loja o cheiro era o mesmo dessa fase da infância. Fechando os olhos pude ver a imagem certinha desse brinquedo.

Mas minha memoria guarda o cheiro do LP novo quando tirava da embalagem, das fitas de vídeo cassete quando vinham da locadora, do pacote de pipoca nhac, do copinho de doce de banana que vinha com uma pá de madeira pra comer ( a casquinha era feita da mesma massa das hóstias da igreja). Tenho a lembrança da merenda de soja servida na escola que eu tinha nojo de comer ( sopa, leite e rosquinha). Dos chicletinhos minúsculos que vinha num pacote colorido ( esse me recordo até do sabor).

Tenho memoria olfativa dos aparelhos domésticos quando novos. Do feijão fedorento que uma vizinha fazia. Ela temperava com óleo que havia usado nas frituras e sempre tinha cheiro de peixe velho misturado com fumaça de cigarro. Lembro-me do cheiro da casa de cada um dos meus parentes, do perfume das tias que morreram, do meu travesseiro de criança.

Isso tudo está armazenado no meu subconsciente e vira e mexe são retirados instantaneamente quando algum deles passa pelo nariz hoje em dia. Ótimas recordações.

E você lembra-se de algum cheiro?

Abração e boa semana.

5 comentários:

M. disse...

Minhas memórias são mais visuais e auditivas... lembro-me dos brinquedos e das flores da minha rua, do poste de madeira na frente da minha casa, das músicas italianas que minha irmã me ensinava.... tudo muito gostoso, néh?
Abraços

railer disse...

acho que essa 'memória olfativa' faz parte da lembrança de todo mundo...

no meu caso, cigarro de palha do meu pai, bolos da minha mãe, bonecas da coleção moranguinho da minha irmã, geleia maluca, cloro na sunga da natação, torta de galinha da minha madrinha, biscoito de polvilho da minha avó e por aí... é muita coisa!

o Humberto disse...

Adorei o post Rafa, e sei exatamente o que vc está falando. É a mesma coisa comigo. Às vezes fico forçando pra ver se lembro de alguma coisa do passado bem remoto, mas meu recorde ainda fica em 2 anos de idade.

Abração!

Cesinha disse...

É isso mesmo... a nossa memória olfativa é poderosa! E é uma das sensações mais diretamente ligadas às zonas cerebrais dedicadas ao processo cognitivo e metacognitivo da memória (faz as ligações entre os fatos aprendidos e os atuais). Em especial ao processamento emocional e associativo... nosso “cérebro emocional”. E dizem até que essa memória se inicia na vida intrauterina... já pensou nisso?

Beijos.

Carlos Roberto disse...

Memória olfativa, sei muito bem como é isso, ô como sei. Massinha, como adorava e adoro até hoje, me dê uma que fico horas igual a um doido brincando, nossa saudades. LP, gente como amo LP, ainda sou doido pra ter alguns que vejo por ai, acho lindo, acho chique, acho retrô. ai... relembrar é viver!